um pouco de mim
Deste lado não escreve só uma mãe, escreve uma mulher com uma vida para além dos dois rebentos que gerou. Uma mulher que trabalha e cuja a vida não se resume a fraldas, leite em pó e noites mal dormidas (que diga-se senhores tem sido uma constante nestes últimos dias).
Esta que vos escreve tem agora 33 anos, advogada de cédula apenas, pós graduada em fiscalidade e mestre em finanças. Algures no tempo perdi-me dentro do sítio onde trabalho e subi (ou desci) para a direcção financeira. Por lá fui ficando, acomodada em jeito de rotina, habituada a todos os processos mais ou menos iguais e com muita experiência no relacionamento bancário angolano. Não ganhei cabelos brancos porque tive sorte na genética e apenas tenho um, mas ganhei muitas horas de choro quando me apercebi que já não ia a tempo de uma carreira e que todos os diplomas que me queimaram as pestanas de nada serviriam na posição em que estava.
Mas o dinheiro trás-nos felicidade e acomoda-nos numa letargia nada típica desta idade. E quando vi que já era tarde para saltar fora, tentei saltar dentro da própria empresa. Subi (ou desci) para a direcção de negociação e propostas, passei de um ambiente de juristas/advogados para o ambiente dos engenheiros. E por aqui me encontro. O método é diferente, não existe rotina, existem picos de muito trabalho que dão direito a directas (nada simpático para quem já dorme tão pouco por causa das crianças), férias de computador às costas porque surgem sempre propostas para responder e uma série de outras coisas menos agradáveis.
Todos os dias me arrependo por ter dado o salto e todos os dias dou graças a deus por ter tido coragem de o fazer. Porque o arrependimento vem pela diminuição do conforto que a rotina me proporcionava e o graças a deus porque hoje sou mais feliz.
Sei, de consciência que a carreira já o era porque o caminho entre a minha formação e a minha experiência não seguiu de mãos dadas e afastou-se ainda mais a partir do momento em que quis voltar a ser mãe e tive uma gravidez de 33 meses.