Marcas da Infertilidade (ii)
Pergunto-me muitas vezes se algum dia vou ultrapassar estes quase dois anos de tratamentos. Achei que ao engravidar poria uma pedra sobre o assunto, mas engane-se qualquer mulher que assim pense.
Infelizmente, são os obstáculos que fazem o nosso caminho e esse fica sempre marcado, seja bom ou mau. Hoje sou uma mulher tão diferente daquilo que era que por vezes não me reconheço. Achei que a felicidade de estar grávida iria apagar os meses de sofrimento mas não apaga, permanece sempre uma tristeza que não é fácil de explicar. Como se algo em mim se tivesse apagado para sempre, como se durante 2 anos tivesse parado de viver.
Se passava por tudo outra vez, hoje não sei, pelo menos não da mesma forma. Se soubesse no que isto me ia transformar talvez pensasse duas vezes antes de massacrar o meu corpo durante dois anos com medicamentos, injeccções, cortisol, insónias. O caminho foi tão duro que olhar para a frente com alguma crença é difícil. Há-de haver sempre alguém a desvalorizar, há-de haver sempre alguém a pensar "ya mas já conseguiste enquanto outras continuam a tentar", e claro que sim, que todos os problemas no mundo fossem mulheres incapazes de gerar vida. Mas isso não apaga aquilo em que me tornei, aquilo que sinto e os dois anos de vida que perdi.