a crise bateu-me à porta
O final do ano de 2015 foi mau, para além de ter descoberto que não podia ser mãe sozinha (apesar de acreditar que havendo um óvulo e um espermatozóide é sempre possível), comecei uma cruzada no meu local de trabalho. Sempre gostei do sítio onde estou apesar de ser sui generis, o ambiente é pesado, masculino e extremamente formal. Tenho uma função de elevada responsabilidade que me tira mais de 10h de trabalho diário e muitas horas de sono devido a preocupações. Estou sentada o dia todo num gabinete em Lisboa, mas a empresa é Angolana e o meu trabalho é todo para lá, e o salário vem de lá.
Quando o preço do petróleo começou a descer, as transferências monetárias vindas daquele país também o começaram. Foi-se tornando cada vez mais difícil, os USD escasseiam na rua e a moeda nacional desvalorizou 300% no mercado paralelo. Muito portugueses estão a regressar mas eu nunca saí de cá, tenho 5 salários por receber (já próximo do sexto) e nenhuma esperança de que um milagre aconteça. Continuo a vir todos os dias para o trabalho, apesar de a minha conta ser a de uma desempregada. Acusam-me muitas vezes de ser uma "pequena burguesa" mas sou também de carne e osso, com problemas reais diários. Também tenho as minhas crises e também eu me debato entre o certo e o errado, entre as batalhas que temos de travar ao longo de percursos mais ou menos tortuosos de guerras que nem sequer são nossas.