Arrumos
Arrumámos os saltos, as calças pretas e camisas engomadas. Arrumámos as chaves do carro, as malas de marca e o batom YSL. Esquecemos as correrias, os minutos contados e as horas extra. Esquecemos o trânsito, os passeios nas Amoreiras a seguir a um treino rápido no Holmes Place. Deixámos os PTs, os almoços do Vitaminas ou a marmita junto ao PC. Esquecemos as saudades dos miúdos, do sofá e das séries no Netflix. Deixámos de ser bombardeados por "parcerias" no instagram, e fotografias invejáveis dos influencers. A vida abrandou e temos tempo, tanto tempo que damos conta de ele passar, e até os segundos parecem mais lentos, em dias intermináveis, e iguais. Tempo para abraços que também não podemos dar porque ficámos presos, em prédios altos em cidades adormecidas ou quintas esquecidas onde o tempo já passava devagar. Estranhos estes tempos em que se vivem, estranho não sabermos o amanhã. Estranho esta estranheza de não saber se gostamos deste novo mundo ou se morremos de saudade de tudo aquilo que anteriormente odiávamos.