O aborto também é deles
Somos nós que sofremos o aborto, mas eles também perdem um filho. Nisto da maternidade o homem é posto de parte ainda. Ninguém Lhe ligou a perguntar como estava, como se sentia. E Ele estava triste, em baixo, tinha acabado de perder o seu terceiro bebé. Também ele nunca o chegaria a conhecer. E os que ligavam perguntavam, “e ela como está”?, “está a ser duro para ela?”. Eu própria me esqueci de perguntar, e sempre que ele tentava falar na sua expectativa que tinha deixado de existir eu gritava.
A dor dele era visível nos seus olhos azuis, tristes e amargurados. O terceiro bebé, mais querido por ele do que por mim, afinal já não vinha a caminho. Vazio. O meu vazio também era o dele, e ainda que sem a parte da dor física, está lá o resto de toda a dor. Temos de começar a “paternizar” mais estes assuntos. Não fui eu que sofri um aborto, fomos nós. Não sou eu que tive dois filhos, fomos nós. A dor é tanto minha quanto dele, bem como a felicidade de os ter no colo, é nossa, e isso é família.