Pois que isto não anda fácil... era a primeira viagem do Henrique connosco, Páscoa fora em família, com direito a andar de avião mas ontem uma crise respiratória fortíssima que o levou de urgência ao médico deitou por água abaixo os nossos planos. Foi a primeira vez que senti a minha impotência, com um bebé no colo, cheio de falta de ar e eu sem saber o que fazer. Foi a primeira vez que assim que o vi soube que ele tinha de ir ao hospital. Felizmente já está medicado e a crise melhorou bastante. Agora é esperar que seja um episódio solto perdido nas nossas vidas. Andar de avião fica para outra altura, que infecções respiratórias não ligam bem com temperaturas frias e ar condicionados.
Podia ter optado por ir na mesma e deixá-lo ao cuidado da empregada ou da minha mãe? Podia, mas que raio ia eu fazer num sítio quando o meu coração ficava aqui?
Bem na verdade não vendi ainda, assinei só o contrato promessa de compra e venda, e pensam vocês e bem, mas esta tipa deve gostar de arranjar sarna para se coçar. E gosto, na verdade cada vez mais sofro desse mal: pele atópica, que me dá uma comichão do caraças.
A casa era cobiçada, de cada vez que a punha no mercado recebia uma proposta ou duas, mas nunca tive coragem, até que há um mês atrás, quando mais um tratamento falhava pensei, é desta que a vou vender e bem vendida. Estiquei o preço ao sabor do mercado e deixei-me ir. Rejeitei a primeira proposta que apareceu ao fim de 5 dias e aceitei uma segunda, de um americano, e já perto do meu asking price.
A verdade é que eu preciso de sair dali, é a casa onde o Henrique nasceu, a minha primeira casa, mas é também a casa onde todos os tratamentos falharam, onde todos os sonhos se desmoronaram. E o quarto do bebé que há-de vir foi-se enchendo com coisas e tralhas da empregada, arrumos e mobília não usada. Enquanto ele esteve vazio sonhei, conforme foi sendo ocupado deixei de conseguir ter a porta aberta até que deixei mesmo de conseguir lá entrar. E assim soube que tinha de sair.
E agora? Para onde vou? Não sei, diz que tenho 36 meses para investir as mais-valias senão quiser ser tributada em sede de IRS. Tenho tempo.
Afinal percebi mal e o meu post anterior não estará claro.
Passo a explicar: existem dois tipos de protocolos nas Fertilizações in Vitro, um protocolo curto, em que o processo de estimulação, punção e transferência é feito no mesmo ciclo, e um protocolo longo, em que o processo de transferência é diferido para um ciclo a seguir e todos os embriões são vitrificados.
Nos protocolos curtos, após a punção é expectável transferir os embriões a fresco entre o terceiro e o sexto dia, e só os embriões de muito boa qualidade chegam ao fim, a blastocistos. Nos protocolos longos, a mulher transfere num ciclo a seguir depois de ovular ou como no meu caso, quando as drogas fizerem efeito porque eu não ovulo. Nestes casos, os embriões que deixam para o fim são aqueles que são de pior qualidade e que à partida não chegam a blastocistos mas que também não iriam ser usados na transferência a não ser que a mulher não conseguisse outros de melhor qualidade. Caso evoluissem para esse estado então seriam congelados.
Então cadê os blastocistos, e é aqui meus amigos que a ciência nos surpreende. Não bastava fazerem tudo num tubinho, congelarem, prepararem o ninho, que ainda vão se dar ao luxo de descongelar 4 embriões, três dias antes da transferência e deixá-los chegar a blastocistos depois de descongelados. E espante-se, que quando são de qualidade A, os que não ficam pelo caminho, voltam a ser (re)congelados novamente.
Assim fiquei a saber que no meu caso agora é aguardar que o meu período apareça, começar Zumenon e aspirina ao 2º dia do ciclo (parece que elevados níveis de estradiol aumentam as possibilidades de tromboses portanto nada como prevenir) e ao 10º dia avaliar o ninho e marcar transferência. Nessa altura descongelarão 4 e deixam outros 4 no friozinho à espera de igual uso.
Claro que este processo só é possível nestes termos porque 1. eu não quero ter mais 8 bebes e 2. conseguimos muitos embriões de boa qualidade.
Contagem final feita de 8 embriões, 5 de categoria A e 3 de categoria B. Infelizmente não conseguiram que nenhum chegasse a blastocisto de 5 dias, pelo que agora se coloca que número transferir. Na minha cabeça estava já decidido que que caso conseguisse um blastocisto (embrião com 5 ou mais dias), apenas transferiria um, mas agora a coisa muda de figura.
Por muito que não gostasse de ter uma gravidez gemelar acredito que as probabilidades de conseguir um teste positivo são maiores caso transfira dois embriões em vez de um. Ainda tenho cerca de um mês para decidir, mas dá que pensar.
Ontem recebemos uma chamada logo pelas 09h da manhã a informar que dos 12 que fecundaram, 8 foram já vitrificados, 5 de qualidade A e 3 de qualidade B. Continua um de fora para chegar a blastocisto. Caso corra tudo bem teremos 9 mini-meus guardados para as próximas etapas.
Sei que o caminho é longo ainda, que ainda tenho muita medicação pelo meio para preparar este útero que também teima em não conseguir fazer nada sem ajuda, mas dá-me algum alento pensar que pelo menos não terei de passar mais por processos de estimulações que são tão pesadas para nós.