E num ápice ele já tem dois anos, 24 meses completos e nós já mudámos a vida em função dele.
Aprendi que o tempo é infinito, que os dias têm 36 horas e que conseguimos fazer tudo e mais alguma coisa. Aprendi o conceito de tirar férias das férias e o de descansar à segunda-feira do fim-de-semana. Tenho domingos em que só me apetece ir para cama às 17h só para que segunda chegue mais rápido. A hora de ir para a cama é as 21h, e senão tiver sono vai na mesma porque o meu descanso só começa a essa hora. Já entrámos na fase das birras e não é fixe, sim ele é daqueles que vocês senhoras criticam na rua porque desata num pranto quando lhe digo que não que não pode mergulhar no lago do Jardim da Parada para dar beijos nos patos. Também já lhe expliquei que não pode conduzir um eléctrico e que só vai ter carta de condução aos 18 anos mas ele ainda não percebe.
Mas descobri também o conceito de saudades, tenho saudades dele com 12 meses, 14 meses, 16 meses e sinto nostalgia em ver fotografias dele bebé. Aprendi o conceito de gostar de alguém muito mais do que nós próprios e da multiplicação diária desse amor. Aprendi a viver amedrontada sempre à espera que lhe aconteça algum mal horrível. Aprendi que ser mãe do meu filho é a melhor coisa da minha vida.
Ontem rezei, pedi-Lhe por mim. Tinha deixado este hábito, esquecido quando fui mãe e foi por tanto tempo que achei não ser digna de Lhe pedir nada. Odeio pedir, sempre odiei e com Ele não é diferente. Mas ontem de olhos fechados rezei, e adormeci a rezar. Rezei de forma egoísta, só por mim, de mim para Ele. Ontem deixei de ser orgulhosa e voltei a estender-Lhe a mão à espera que me desse a Dele. Ontem voltei a abrir o meu coração e a confessar a minha pequenez. Ontem rezei, e hoje acordei mais leve e em paz, já tinha esquecido que adormeci a rezar porque é tão natural como sempre foi. Voltei a encontrar a minha Fé, e que ela me traga pelo menos serenidade.
Pára, escuta o que o teu corpo te diz, ele é o teu templo, a tua morada e ninguém o conhece melhor que tu. Na azáfama do dia a dia, entre correrias, trabalho e fraldas não damos a devida atenção a pequenas mudanças. Pára por um segundo, analisa-te, toca-te e descobre-te. Eu não o fiz logo, mas fiz em determinada altura. Pára e deixa que o teu companheiro também te veja, eles também nos conhecem. O meu conhece-me muito bem e foi ele que acreditou que haveria alguma descompensação. Procura, não tenhas medo do que vais encontrar. O silêncio ajuda, ajuda sempre. Se acreditares que algo está mal tenta descobrir o que é. O caminho às vezes pode ser longo, mas não o tentes atalhar. Não resulta a longo prazo.
Sobrevivi, passaram dois anos e estou cá, sou mãe, e uma mulher melhor. Parabéns a ti criatura mais linda e ao pai que também te fez. Parabéns a nós, que não somos perfeitos mas somos uma família, felizes à nossa maneira. Estiveste doente no teu dia e eu estive cansada e irritada, mas do que depender de mim e enquanto vivas comigo todos os dias serão teus. Agora sei o que é este amor que não se explica, não é cliché, é mesmo assim. Quando achei que amava (o teu pai) vieste tu e fizeste me perceber que amor é afinal isto, que cresce todas as manhãs que abro a porta do teu quarto e te vejo esfregar os olhos ensonados. Que cresce sempre que te peço um beijinho e tu te recusas mas se te peço uma turra tens todo o gosto em dar-me uma cabeçada. Que cresce quando estou longe de ti nas 10 horas diárias de trabalho e chego a casa cansada desejosa que não tivesse lá um bebé à minha espera a precisar de dedicação mas depois é o melhor do meu dia. Que cresce quando te mando para a minha mãe e assim que estou a chegar a casa já estou a morrer de saudades. Serás sempre o meu bebé, o meu primeiro filho e se calhar até o único. Mas isto já ninguém me tira.
Dia 3 de Julho, o termómetro registava 38 graus, sentido sul Norte, quilómetro 199 perto de Almodôvar. Ficámos parados, durante quase duas horas. Sei que o acidente foi grave, que morreu alguém, que também tinha crianças no carro. Provavelmente também voltavam de fim de semana como nós. Senti-me impaciente, doente, olhei tantas vezes para o meu filho enquanto ele corria à volta do carro aproveitando a oportunidade única de poder brincar no piso quente da A2. A vida é tão curta e o adeus está ao virar da esquina e ele é a melhor coisa que eu tenho.