Este fim-de-semana, rumámos ao Alentejo até à Quinta do Chocalhinho, um espaço agradável e ideal para uns dias em família, sem horas, sem dietas, sem intercomunicadores, sem box ou computador. Nós os 3 em família e que bem que soube. O tempo ajudou e o calor deu para os primeiros banhos na piscina. As crianças são tão mais felizes na rua, é impressionante.
Ontem rendi-me ao meu novo instrumento de cozinha - spiralizer!
Resolvi fazer um "esparguete" de curgete que fica óptimo. Não vou mentir e dizer que sabe imenso a massa, porque não sabe, mas fica rijo, e temperando com tomilho, sal marinho e um fio de azeite dá um jantar óptimo e o mais importante low carb.
Quando fui mãe estava na moda as super mulheres que trabalham e são mães ao mesmo tempo, sendo que a maioria delas não trabalha verdadeiramente, ou trabalha sazonalmente tipo uma vez no verão e outra no inverno. Super mães cheias de super poderes, que para além de não terem lóquios, conseguiam estar sempre maravilhosas e airosas, penteadas e perfumadas, com bebés super fofos, vestidos em golas de camões e sempre fotografados por profissionais (anyone?). Pois bem, essas super mulheres passaram à história, as novas super mulheres têm entre os 25 e 30 anos, trabalham (não percebi bem em que áreas) e imagine-se, vão ao ginásio e partilham esse feito no instagram. Têm milhares de seguidores que anseiam por ver os seus corpos suados, são uma inspiração. Fit é o novo magro. Eu própria tenho uma conta de instagram que mais parece um site de pornografia com tantos bumbums jeitosos que aparecem a cada minuto. E penso, sonhando alto "um dia vou ser como elas". Só que não! Agora a sério, digam-me quais os ingredientes para que eu posso também saltar para este mundo do estrelato, imagine-se que sou mãe, tenho 30 anos, trabalho de verdade, como limpo e... vou ao ginásio. Falta-me apenas um detalhe:
Isso e seguidores que as minhas fotos não vão além dos 10 gostos.
Tento sempre fazer pratos bonitos e pouco calóricos para o jantar. Os hidratos vou buscar aos legumes. Não sou daquelas que janta só uma sopa porque tenho sempre muita fome, e a sopa conforta mas passado uma hora estou esganada.
O jantar de ontem foi uma omelete de claras com gambas cozidas com trio de alfaces e beterraba. Os olhos também comem.
- É a Sra. Gripe, com muco e expectoração, ranho e rabugice, vou só ali dar um abraço ao pequeno e alapar-me por 5 dias ou mais.
E começa a saga: vapores, soro, aspirações, e outras medidas medicamentosas que tragam algum conforto à minha cria. Sem saber assoar-se a coisa fica mais difícil, engole o ranho, tosse o ranho, engasga-se com o ranho e vomita o ranho. Tudo isto em semana de? Adivinhem? Progenitor fora claro está. E é sempre nestas semanas que dou mais valor a mães solteiras, mães viúvas, mães com maridos a trabalhar no estrangeiro, não que eles ajudem muito, mas dão-nos o conforto do "ok não estás sozinha, não podes falecer agora". Tinha feito grandes planos: vais para a avó, a mãe vai ficar de férias de cria 4 dias e de marido 5. Vou cortar o cabelo, vou ao ginásio ao fim do dia só fazer um banho turco, vou beber um copo de vinho enquanto vejo um filme no sofá, vou ler na cama sem ter de apagar a luz para que não despertes, vou levantar-me mais tarde de manhã e ter-me só a mim para dar comida, banho e vestir, NOT! Segunda-feira acordaste com um olhar vermelho, olheiras vincadas e nariz a pingar, lá se foram os planos, criatura doente precisa do mimo de sua mãe.
Os tratamentos continuam, os dias passam e nada corre como tem de correr. O primeiro ciclo terminou antes do tempo, o segundo ciclo foi interrompido, o terceiro ciclo foi cancelado. O quarto ciclo não pode começar porque o meu corpo ainda não "limpou" como deve ser a hiperestimulação. Perguntava há tempos quando nos é permitido sofrer, a partir de quando, a propósito das mulheres que já têm um filho e não conseguem conceber vs, aquelas que não têm nenhum, e hoje pergunto quando me é possível começar a chorar. Sei que a caminhada é longa, mas cada km que passa perco mais um pouco de esperança. É uma luta minha, diária, constante. Tento manter-me firme, ao de cima, mas de cada vez que vou ao fundo custa mais um pouco a emergir. Queria ter coragem para desistir, sendo um contra-censo, desistir de uma coisa em que já não acredito, mas tento sempre mais um pouco porque é algo que queria muito, não é o desejo de conceber, de estar grávida, é o desejo de dar um irmão ao meu filho. Sou filha única e passei por tanto sozinha. Não vou nunca cometer os erros dos meus pais mas não quero que o Henrique sinta algum dia a solidão que senti não raras as vezes.
A vida nocturna lá em casa parece ter voltado à normalidade (xiuuu até tenho medo de dizer em voz alta). Depois de duas semanas de noites mal dormidas a criatura parece que ultrapassou mais uma fase de crises. Mantive-me fiel à minha palavra e não o tornei a colocar na minha cama, foram 3 ou 4 noites em que o meu marido se levantou e foi falar com ele, explicou lhe que não podia dormir connosco, que a cama dele era muito fixe e era ali no quarto dele. 3 ou 4 noites em que ficámos mais de duas horas acordados durante a noite, a ouvi-lo chorar e a chamar por nós. São fases, e nós temos de saber lidar com elas. Quando eles tentam chamar-nos a atenção devemos distanciar-nos e ignorar, da mesma forma que quando fazem alguma coisa de forma correcta devemos aproximar-nos e presenteá-los pelas boas atitudes, mimá-los e apertá-los com beijos. E está máxima deve ser para a vida. Eles vão até onde os deixamos ir... não vão ficar traumatizados por chorarem durante 5 minutos, não vão ser menos felizes por não dormirem na mesma cama dos pais. É um jogo de cintura difícil, mas ninguém nunca nos disse que criar seria fácil.