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Estado de (des)Graça

todas sabemos que a gravidez é um estado de graça.

09.Nov.15

Dá que pensar

A propósito deste artigo do Observador sobre as domésticas do nosso século não posso deixar de me questionar se estou a fazer o correcto. Sei sem sombra dúvida que estou a dar o meu melhor, mas não sei se será a melhor opção. Custa-me que o Henrique seja criado pela empregada, que o adora, mas não mais do que eu, custa-me estar no máximo duas horas por dia com o meu filho, custa-me deixá-lo todos os dias de manhã a choramingar porque não quer que eu me vá embora apesar de saber que passados dois minutos já se esqueceu. Eu trabalho bastante, tenho um emprego com alguma responsabilidade e viajo algumas vezes. O meu marido trabalha bastante e viaja bastante. Consegue sair cedo do trabalho mas não está em casa antes das 19h15. Mas depois temos daquelas semanas (como estas) em que ele não vê o filho de domingo a sábado, e ele já vai sentindo estas ausências. Tento colmatar de alguma forma mandando-o para casa dos meus pais nestas semanas porque sempre está com os avós, mas custa-me. Custa-me que este país não cuide dos pais e não fomente a natalidade. 

 

E ao escrever estas palavras sei que muitos pensam "olha-me esta a falar quando tem um emprego e uma pessoa a tempo inteiro a ajudá-la". E tenho é verdade, mas não tenho um emprego das 09h às 18h (ontem, domingo, eram 23h30 e eu estava ao telefone para Luanda), tenho uma empregada porque não tenho horários que permitissem ter o bebé num colégio e porque posso claro. Mas este poder sai-me caro. Gostava que eu ou o pai pudéssemos estar mais presentes, gostava de não ter um emprego assalariado dependente da vontade dos outros com um salário próximo do que tenho actualmente. Gostava de na próxima vez que engravidasse não viver aterrorizada como se tivesse a pecar por ter emprenhado, imagine-se do meu marido. Gostava de não ter horários tão rígidos, gostava como todos nós de ter o melhor dos dois mundos. Hoje mando um abraço a todos os pais e mães que optaram por se dedicarem aos filhos com todas as vantagens e desvantagens associadas a essa opção. Sou da opinião que quando um ganha razoavelmente bem, talvez o outro possa passar a ter um emprego 24 horas por dia em casa. E o abraço não é pelo esforço desmesurado que este tipo de "empregos" acarreta mas sim porque optaram por cuidar primeiro dos seus mesmo que isso tenha implicado abdicar de outros "sonhos".