Parece que escolhem a dedo, a mãe longe e com a notícia do Gordo doente. Ontem quando o vi via Facetime fiquei com o coração apertado. Ranho a escorrer pelo nariz, olhinhos tristes e a dizer "mamãããã" mas sem o sorriso habitual. Foi de tal forma que desliguei o telefone porque não conseguia vê-lo naquele estado e não poder abraçá-lo. Sei que faz parte mas este tipo de coisas só me vêm dar mais certeza que a mãe é quem sabe e quem faz melhor.
Vai ser a primeira vez desde que fui mãe que vou sair em trabalho. É certo que já saímos de férias sem o Gordo algumas vezes mas não é a mesma coisa sair sem nenhum dos dois. Mas a vida é assim e nós é que somos as verdadeiras guerreiras - mães trabalhadoras (sim já sabem que eu embirro com algumas da nossa espécime). Se me custa? Claro que sim, mas não vou dizer que odeio. Estas viagens alimentam a minha carreira mesmo que por vezes sejam desprovidas de sentido ou fundamento, mesmo que seja para ir fazer de corpo presente para outros lados da Terra e que para chegar lá seja preciso apanhar dois aviões e perder quase um dia em viagem. Sei que ele sente a minha falta, mas fica bem entregue, ao Pai, companheiro de palhaçadas. Mas um dia ele há-de perceber que em parte fiz isto por mim claro, mas também por ele.
Estava difícil marcar o baptizado do gorduxos. Gostava que tivesse sido mais cedo mas por desleixo nosso não aconteceu, e o tempo foi passando e ele já vai com um ano e dois meses. Mas todos os dias olho para ele e lembro-me que tem de ser, preciso que ele esteja mais "protegido" e bem entregue. Vai ser uma coisa pequena só para a família e padrinhos porque não acho que seja um evento que peça uma festa, o importante é a celebração e o acto religioso em si. Os padrinhos estão escolhidos desde sempre, a cunhada mais velha de um lado, e um grande amigo do outro (marido da melhor amiga e madrinha de casamento). O bolo está encomendado na senhora que fez o dos anos e desta vez não foi preciso pensar em tema.
Ontem fizemos 4 anos de casados e havia programa fofinho num dos restaurantes do Avillez, fofinho que é como quem diz de boa comida (basicamente eu que estou sempre em dieta comi tudo a que tinha direito e mais ainda). Bem, mas porque estes dias não são passados sem surpresas o marido resolveu pensar numa mega: em vez de levá-la de carro/táxi/metro/avião de Campo de Ourique ao Chiado, vou levá-la de Tuk Tuk. Reservou o serviço no dia 4 de Setembro, recebeu um email de confirmação no dia 15 de Setembro (esta terça-feira) e às 20h45 disse-me "vá temos de descer", ai homem, a reserva é só para as 21h30. Chegámos ao Jardim da Parada e o homem começa a ficar nervoso, "calma já deve estar a chegar mais um táxi" e pimba dá-me logo a surpresa de mão beijada (tem jeito) "nós não vamos de taxi, vamos de Tuk Tuk". Pronto ok e a Tuk Tuk onde está? Toca de telefonar ao Sr. da empresa TUK ON ME e perguntar onde estava a surpresa da esposa. Pois bem, a minha surpresa estava na garagem, recolhida, a dormir. "ah que pena, esquece-mo-nos". O meu marido começa a espumar e o homem lá se lembra de rematar e de se desculpar com o novo despacho (confesso que ainda não fui ver se já está em vigor) de que as Tuk Tuk só podem circular até às 21h. Pois é meu querido, mas então tinha enviado um email a explicar a situação para o meu marido ter tempo de preparar o aluguer de uma nave para me levar ao Chiado não?
Bem, mesmo ao meu jeito fui logo deixar um comentário na página de facebook da dita empresa para expressar o meu desagrado com tamanha falta de profissionalismo, mas claro que a página tem moderação nos comentários e o mesmo não foi publicado. Lamento, e lamento a falta de profissionalismo, e lamento ainda mais o facto de só depois de ter deixado o dito comentário se ter lembrado de enviar um email (quando podia logo ter dito por telefone) a dizer que nos oferecia uma tour por Lisboa de uma hora. Uma vez que só faço anos de casada uma vez por ano vou deixar passar a oferta sim? Obrigada.
Somos novos, temos 30 anos, carreiras estabelecidas, casamentos perfeitos e filhos bebés. Vivemos cada dia despreocupadamente sem nos apercebermos da sorte que temos por estarmos bem. Temos um tecto, boa comida e viagens, temos o conforto de um abraço quente ao fim do dia ou de uma manta no fim-de-semana, temos aquilo que sonhámos e aquilo que nem sequer pensámos, não estamos preparados para ficar sem chão, sem tecto, sem tudo só porque Deus assim o decidiu. Este amigo de uma amiga tinha isso tudo e tem, mas sem que nada o fizesse prever descobriu um cabrão de um tumor que resolveu tentar roubar-lhe os sonhos que já são a realidade dele. Só um milagre o poderá salvar, e saber disto, ouvir isto da boca de um médico que sentenceia a chegada da morte não pode ser digerível. Ontem ele estava bem, hoje passou horas num bloco operatório, ontem ele tinha uma família, hoje tem a certeza que terá de aproveitar cada minuto com eles porque não sabe quando será o último. Ele não sabe e pode estar mais perto de ir, mas nós também não sabemos, e o que hoje é amanhã pode já não o ser.
Não imagino a dor dele, a dor da mulher dele e não quero imaginar. Dói-me a mim que não o conheço porque vejo neles aquilo que somos. Jovens com tudo o que sonhámos e mais alguma coisa.
Tento mentalizar-me que não posso pensar demasiado no assunto, tento esquecer que não tomo a pílula desde o dia 13 de Julho e que desde o dia 17 desse mesmo mês não tenho período. Tento relaxar, descontrair e não pensar muito no assunto. Sei que a ânsia é inimiga de quem quer um positivo, sei que gerar um filho é quase um milagre, mas não saber o que se passa cá dentro deixa-me sempre na expectativa. Da primeira vez demorei tempo, da primeira vez fiz mais de 20 testes e vi 20 negativos, cada um custava mais que o anterior. Da primeira vez fui-me abaixo e andei verdadeiramente triste por não estar a conseguir. Os meus ovários são preguiçosos, os meu ciclos gigantes e eu não quero tomar nada que ajude porque acho um disparate.
Vou e quero fazer este caminho outra vez, mas não quero viver aquilo que tive no passado. Não me fez bem e espero ter aprendido com a experiência. Quero descobrir que estou grávida quando já tiver de 8 semanas tal é a descontracção e é nisso que vou trabalhar. Não quero deixar de beber um copo só porque posso estar, não quero deixar de treinar que nem uma louca só porque posso estar, porque não quero pensar que estou. Quero agir naturalmente e adequar as minhas rotinas apenas quando o souber verdadeiramente.
Cada vez que leio um post/reportagem/artigo sobre Campo de Ourique, ou sobre uma qualquer loja (mais uma) que por lá abriu começo a revirar os olhos. Foi a Hamburgaria da Parada, depois foi o Mercado, é a Horta do Bairro, os Patinhos ou a BabyCool, agora o Giallo, é a Foccacceria Publiese, o mais antigo Stop, é a Aloma e o Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, é a Lx Brownie ou o Karl's Cookies, tudo isto em redor da minha casa, não só a querer contribuir para o meu aumento de peso como também a testar a minha paciência para níveis nunca antes vistos. Estacionar tornou-se um problema a não ser ao domingo a seguir ao almoço. Ao sábado que nem me passe pela cabeça querer sair de carro, durante a semana que nem me passe pela cabeça ficar a trabalhar depois das 20h, ao almoço que vá com tempo para perder 10 minutos à procura de lugar. Tudo porque toda a gente resolveu abrir uma loja por lá. Se alguém estiver à procura de um espaço para abrir o que quer que seja vendo a minha casa sem pensar duas vezes.
* mas continua a ser um bairro muito fofinho e muito babyfriendly.
Por aqui também fomos ao grande evento do ano na capital Portuguesa. Um caos senhores, meninas e mulheres em saltos altos vertiginosos por essa calçada portuguesa fora e lábios carnudos pintados de vermelho. Fui buscar a outra mãe desnaturada à porta do trabalho e zarpámos para o Bistrô4 no Hotel Porto Bay e de lá não saímos. Ela também com um bebé e com uma mãe fixe como a minha estava livre e portanto toca de aproveitar.
E são nestes pequenos momentos que deixamos de ser apenas mães e voltamos a ser apenas amigas, as conversas sobre papas e cocós estão implicitamente proibidas apesar de termos partilhado todas as fases da nossa vida em simultâneo (acabámos o curso de direito no mesmo ano, fizemos mestrado no mesmo ano, casámos no mesmo ano, engravidámos no mesmo ano, fomos mães no mesmo ano...). E é tão bom partilhar estes momentos com as que nos são próximas, preguiçosamente, sem horas (e sem pão a voar ou alguém com 80 cm a gritar), enquanto se acompanha com um Martíni e se fala sobre as coisas boas da vida e se diz mal de tudo o resto. A vida é tão curta, e ontem tivemos ainda mais a certeza disso, e nós somos tão novas que cada vez mais penso que tem de haver tempo para tudo. Por eles e para eles tudo, mas para nós também.
Blogs de sucesso cujo as autoras não sabem escrever. Por sucesso entenda-se, aqueles blogs que possibilitam viver à custa de patrocínios e bens em espécie. Então quando são sobre o tema deste isso ainda me põe mais louca. Sei que são histórias fofinhas, e num abrir e fechar de olhos passamos a ser imensos, e num abrir e fechar de olhos somos mães trabalhadores-só-porque-temos-um-pc-ligado-enquanto-amamentamos, mas para mim isso não chega, e não devia chegar para a maioria dos leitores que alimenta esses conteúdos mal escritos e estruturados, que não respeitam as regras mais elementares de sintáctica.
Vi num destes dias um post no Grupo das Mães de uma mãe a perguntar "como fazem para tomar banho com bebés pequenos?" ou algo do género. Muitas respondiam que não o faziam, que só tomavam banho quando os maridos estavam em casa ou que esperavam por eles para o fazerem. Se eu fizesse isso, esta semana por exemplo tinha tomado banho no domingo e voltava a tomar banho no sábado. A verdade é que nós mulheres nos adaptamos a todas as situações. Na primeira vez que o meu marido saiu o Henrique tinha um mês, e custou, deu muito trabalho, e eu ainda não estava preparada para ser mãe, da segunda, terceira, quarta, quinta também custou, mas foi custando sempre um bocadinho menos, e desta vez, desta 13ª vez que ele saiu desde que o bebé nasceu (ainda) não custou. E sinto-me grata por isso. Temos saudades claro que sim, mas estamos tão habituados um ao outro que a coisa faz-se. Aprendi a fazer tudo com ele e para ele (só continuo sem lhe cortar as unhas), aprendi a não entrar em pânico e a controlar os pensamentos macabros tipo "e se desmaio aqui e o bebé fica a chorar sem ninguém para o acudir?" e "se ele fica cheio de febre, ou tem uma convulsão ou sufoca e eu não tenho sangue frio para reagir?".
É difícil e só quem está na mesma situação me poderá compreender, mas faz-se porque nós mães e mulheres fazemos tudo. E não comparem (como faz um amiga minha) aos casos dos maridos que passam a noite fora a trabalhar e chegam tarde. Esses chegam, e estão ali ao lado ou a uma hora de distância, ou a duas. O meu está a 1100 Km de distância, com voos directos para Portugal duas vezes por semana. Mas faz-se, tudo se faz.