sempre que sais
Sempre que sais eu digo que gosto um bocadinho menos de ti, mas não é verdade. Sais uma a duas vezes por mês durante 5 dias, para quem não vive pode parecer pouco. Hoje saíste e eu sei que vou chegar a casa e vou vestir o pijama e fazer xixi quando o H permitir, vou dar banho ao nosso filho, vou brincar no chão do quarto dele, vou dar-lhe jantar, vou brincar mais um pouco, vou pô-lo a dormir e nisto também já é hora de eu comer qualquer coisa e pirar-me para a cama vazia. Amanhã acordo e com sorte ele não acorda ao mesmo tempo, terei tempo para tomar um duche de 5 minutos. Caso contrário, vou preparar o leite, dou-lhe ainda na cama, brinco um pouco às torrinhas, limpo-o, visto-o, vamos abrir as portadas, ponho a cadeira da papa na casa de banho e tomo banho com aquele sorriso voltado para mim. Nestes dias não consigo maquilhar-me, ou esticar o cabelo, mas consigo vestir-me e preparar a salada para levar para o almoço.
Sempre que sais a minha semana vira-se do avesso mas eu não gosto um bocadinho menos de ti. Fico a saber que gosto mais do que acho porque noto a falta que me fazes, a falta que nos fazes. Sempre que sais estou em contagem decrescente. Hoje ainda faltarão 4 noites, mas amanhã já é menos uma. Sempre que sais sinto-me sozinha mas durmo melhor porque não estás ao meu lado a ressonar, porque não te ouço a entrar na cama de madrugada, porque não estás lá a tentar dar-me beijos na boca fora de horas.
E o casamento é isto mesmo, é a falta, é a partilha, são as zangas, as ausências, os beijos na boca, o ressonar ou o roubar espaço na cama.
Sempre que sais eu sei que também é por nós, sei que voltarás. Sempre que entras pela porta de casa à sexta eu gosto um pouco mais de ti, e só não te abraço ou te beijo porque eu sou mesmo assim, distante, fria e pouco meiga, mas o casamento é isto.