Este sábado temos festa, por mim não tínhamos nada mas o Husbie insistiu num lanche fofinho com os mais próximos. Festa fofinha que é festa fofinha tem de ter um bolo com pasta de açúcar (acho que é este o termo). Vai daí e pergunta a amiga cuja a criatura leva dois meses de avanço quem lhe fez o bolo e liga-se para a senhora:
- olá, a MOC deu-me o seu contacto, queria encomendar-lhe um bolo para a festa de um ano do meu filho.
- que tipo de bolo?
- aqueles com cores queridas, em azul bebé ou branco.
- sim, e qual seria o tema?
- tema? que tema?
- claro a festa tem de ter um tema, o da sua amiga era o Piu Piu cor-de-rosa.
- ahhh, errrr, não pode escolher por mim?
(senhora a achar que eu sou uma herege)
- oh não, é a festa do seu filho, um marco muito importante, primeiro aniversário, podemos fazer o tema do convite (convite?? qual convite?).
- ok já lhe ligo.
Dei voltas à cabeça, perguntei ao meu marido que respondeu "futebol", mas não achei que com esse tema desse para ter cores fofinhas. Vai de googlar imagens "bolo pasta de açúcar em azul bebé" e tcharammmmm escolhi o tema.
- olhe o tema é o Farol.
- o Farol?? mas é muito difícil fazer um bolo em farol.
- olhe não sei, tente.
Sábado vou buscar o meu farol.
(em conversa com a amiga L esta perguntou se não podia ter sido um boneco que ele adore - que vocês já sabem que é o júlio/kikonico - imaginem a cara do bébas a ver toda a gente a comer o seu boneco de estimação).
Sermos pais não implica deixar de sermos casal, sermos mães não implica deixarmos de ser mulheres. Fora os primeiros tempos que são mais conturbados, confesso que nos primeiros 4 meses a minha vida foi dedicada a dar-lhe colo, a embalá-lo, a tentar acalmá-lo, a ficar quieta no sofá com ele nos braços para que não acordasse, a partir daí consegui melhorar muita coisa. Com o tempo comecei a deitá-lo cada vez mais cedo, hoje em dia às 21h está na cama o que é óptimo porque assim jantamos sossegados (nos primeiros 4 ou 5 meses não jantei) e temos o fim do dia para nós ou para cada um. Optámos por sexta-feira de 15 em 15 dias deixá-lo a dormir com os meus pais, vai à sexta com eles e ao sábado ao fim do dia vou buscá-lo. Permite-nos ir jantar fora à sexta-feira e aproveitar o dia de sábado. Nos fins-de-semana que fica connosco muitas vezes chamamos a MJ para passar o sábado com ele.
Sei que visto de fora muito gente me criticará, chamará mãe desligada ou sem tempo mas a verdade é que o tempo de qualidade que consigo para mim gera qualidade no tempo que passo com ele. Dedicarmo-nos apenas aos rebentos é a meu ver um erro que terá consequências negativas a longo prazo. Ou porque nos desleixamos fisicamente, ou porque a relação a dois sofre com a ausência da mulher, ou porque ficamos recalcadas porque não fizemos isto ou aquilo. Ver fotografias em grupos do facebook de barrigas enormes de mulheres que foram mães há um ano com comentários de "orgulho", "não me importo" faz-me confusão. Não tanto pela beleza estética de uma barriga à Carolina Patrocínio mas mais pelas questões de saúde implícitas (psicológica e fisíca) por de trás dessa gordura visceral.
Há mães que acham que sabem tudo, que têm de mandar bitaites sobre tudo, que comparam os filhos em tudo. Tenho uma amiga que compara a filha dela que tem perto de 5 anos com o meu que tem 11 meses. Estas que comparam os feitos dos seus rebentos tendem a ser as mamãs hitler, ou é assim ou és parva, eu é que sei, eu sou a dona da verdade. Conversas do género "mas porque não dás gelatina de morango ao teu filho?" Raios porque não quero. "Olha que não deves dar papa todos os dias", "olha que com essa tosse ele devia ir ao médico", "ohhh coitadinho ainda não anda?". "O meu com 3 meses já andava e conseguia terminar o cubo de rubik em dois minutos". Ohh coisa fofa da sua mãe, que esperto.
Estou a pensar em ir a um ortopedista pediátrico urgentemente. O puto tem 11 meses e só agora começou a gatinhar de 4, andar?? Gargalhadas.
Aproveitar que acordam cedo, rumar para a praia às 10h (!!!), aproveitar o frio que estava na costa e as nuvens que não deixavam o sol passar, embalá-lo junto do mar, deixá-lo a dormir abraçado a uma Caia, e regressar a casa com um bebé mais feliz, que mais se pode querer?
Podiam ser noites de ir jantar fora, de jantar à luz das velas, de abrir uma garrafa de vinho, de fazer amor sofregamente, de ver um bom filme a comer um gelado do Santini ou chocolate da Arcádia, de ficarmos a olhar um para o outro enquanto o nosso filho dorme que nem um anjo na cama dele. Podiam ser isto tudo mas não são. As noites de sexta quando há um regresso são dia de eu beber uma cerveja, reforçar a dose de melatonina, pôr os tampões nos ouvidos, a pala nos olhos e entrar em coma profundo até ao dia a seguir.
Esta sou eu em modo lamechas. Esta sou eu em modo "quero ser mãe outra vez, ontem". Olha para o Pablo e vejo-o crescer, todos os dias gosto um bocadinho mais dele e é tão bom gostar assim que quero ter mais uma pessoa com quem partilhar este gostar. Não consigo explicar, haverá alguma mãe que o consiga? Esta sou em modo quero muito mais tenho medo. Odiei a experiencia da gravidez e costumo pensar "se ele pudesse parir tinha 5 ou 6", assim fico-me pelos 2. Quero tanto gostar mais um pouco que até na adopção tenho pensado. Dois meus e um do mundo. Esta sou em modo relógio biológico activo mas demasiado racional. Encontro todos os motivos para ir em frente e uns quantos (ainda que momentâneos) para recuar. Se ele não saísse tanto em trabalho, se eu não tivesse tanto trabalho, se o Pablo não fosse tão pequenino, se a gravidez não fosse um horror e o parto não me assustasse tanto... mas depois chego a casa e tenho aquela miniatura de rapaz a fazer-me sorrisos deliciosos e esqueço tudo e penso quero outra miniatura a derreter-me. Esta sou eu em modo mãe derretida.
A semana tem sido caótica e com poucas horas de sono ou muitas interrupções nocturnas. Quem me conhece sabe que não vivo bem sem as minhas 8 horas diária de sono reparador. Nestas semanas em que não estás tudo acontece, desde uma constipação vinda do nada, a um canino a ver-se pela gengiva e um pré-molar a furar devagarinho imaginam o humor da criatura não é? Agora imaginem o meu que não tenho a MJ a dar-me comida a boca, a fazer-me festinhas na cabeça para adormecer, e a meter-me a dormir a sesta porque tenho os olhinhos inchados.
Sempre que sais eu digo que gosto um bocadinho menos de ti, mas não é verdade. Sais uma a duas vezes por mês durante 5 dias, para quem não vive pode parecer pouco. Hoje saíste e eu sei que vou chegar a casa e vou vestir o pijama e fazer xixi quando o H permitir, vou dar banho ao nosso filho, vou brincar no chão do quarto dele, vou dar-lhe jantar, vou brincar mais um pouco, vou pô-lo a dormir e nisto também já é hora de eu comer qualquer coisa e pirar-me para a cama vazia. Amanhã acordo e com sorte ele não acorda ao mesmo tempo, terei tempo para tomar um duche de 5 minutos. Caso contrário, vou preparar o leite, dou-lhe ainda na cama, brinco um pouco às torrinhas, limpo-o, visto-o, vamos abrir as portadas, ponho a cadeira da papa na casa de banho e tomo banho com aquele sorriso voltado para mim. Nestes dias não consigo maquilhar-me, ou esticar o cabelo, mas consigo vestir-me e preparar a salada para levar para o almoço.
Sempre que sais a minha semana vira-se do avesso mas eu não gosto um bocadinho menos de ti. Fico a saber que gosto mais do que acho porque noto a falta que me fazes, a falta que nos fazes. Sempre que sais estou em contagem decrescente. Hoje ainda faltarão 4 noites, mas amanhã já é menos uma. Sempre que sais sinto-me sozinha mas durmo melhor porque não estás ao meu lado a ressonar, porque não te ouço a entrar na cama de madrugada, porque não estás lá a tentar dar-me beijos na boca fora de horas.
E o casamento é isto mesmo, é a falta, é a partilha, são as zangas, as ausências, os beijos na boca, o ressonar ou o roubar espaço na cama.
Sempre que sais eu sei que também é por nós, sei que voltarás. Sempre que entras pela porta de casa à sexta eu gosto um pouco mais de ti, e só não te abraço ou te beijo porque eu sou mesmo assim, distante, fria e pouco meiga, mas o casamento é isto.
Do meu grupo de amigas e do grupo de amigos do meu marido, casámos todos mais ou menos ao mesmo tempo, tivemos filhos na mesma altura, uns anteciparam-se e até já têm dois. Sei que no ano em que casei casaram muitos mais. Somos todos novos na casa dos 30 e pouco e não achei que os divórcios entre nós começassem já, mas enganei-me.
No inicio da semana soube que um dos meus padrinhos de casamento estava fora de casa desde Janeiro e que tinha resolvido avançar para o divórcio. Disse logo ao meu marido "foi ela que quis". Isto porque ele vem de famílias católicas em que a máxima é quantos mais filhos tiveres melhor. Pois bem, enganei-me. Ele saiu de casa porque quis, porque ela era "chata", não o deixava estar com os amigos, estava sempre a fazer-lhe "cenas" que o atrasavam para ir para o trabalho ou para outros programas. E pronto, foi só isto, ou parte disto. Não o vou julgar até porque acredito sempre que nisto do casamento a culpa é sempre de ambas as partes, mas e o bebé? Têm um filho com pouco mais de um ano, fruto de um casamento que seria para vida, dito por eles perante Deus e a Santa Igreja. Desistir será o melhor caminho?