Sobreviver ao oitavo mês
A partir deste mês deixa-se de sobreviver e passa-se a viver. O bebé já tem as rotinas dele bem definidas, já dorme quase sempre bem (excepto em noites que antecedem o rompimento de mais um dente), come bem e interage. Começa a movimentar-se à sua maneira e a querer chegar a todo o lado. Duvido que algum dia o príncipe vá gatinhar de quatro. Arrasta-se por toda a casa dando à perna (usa apenas a esquerda o que faz lembrar um mutilado de guerra) e faz de pano da Vileda. Já pensei se não seria de inventar (se calhar já alguém inventou), panos da Vileda para embrulhar as criaturas. Era da maneira que a MJ poupava tempo. Mas voltando ao ser rastejante, quer ir a todo o lado onde não deve claro está, a obessessão pelas tomadas começa desde cedo dando ideia que teremos um futuro brilhante electricista. Os cantos mais bicudos também parecem fazer razias na cabeça dele. Enquanto se arrasta fala muito e faz brrrrr não dizendo nada em concreto. Ri-se muito, diz adeus a todo o momento, principalmente quando lhe estou a limpar o cocó (deve estar a despedir-se daqueles amiguinhos mal cheirosos) e quando vai no carro virado para o banco. Não manda beijinhos mas faz o give me five (mesmo rapaz). Não diz mamã, nem papá, nem papa, nem dá, nem toma nem coisa nenhuma. Não se põe de pé, não se senta sozinho nem, imaginem, lava os dentes. Continua a ser uma criatura curiosa e com as bochechas mais lindas de Campo de Ourique. Afogo-o em beijos todos os dias e todos os dias penso que cada vez gosto mais dele. É possível?