Que raio de sentimento é este que leva uma pessoa a ter saudades de uma coisa que odiou? Que sentimento estranho é este que nos faz ter saudades dos enjoos durante 9 meses, das idas constantes à casa de banho, das noites mal dormidas ou não dormidas de todo, dos pés inchados, das mãos sapudas, das maminhas gigantes? Não sei se é saudade, se é nostalgia, se é o quê, mas não fosse ele tão pequeno atirava-me a outra.
A crise dos dentes abrandou um bocado e de repente começa a fazer noites seguidas. Acorda faminto porque o leite continua a ser adorado depois de ter sido odiado durante 5 meses. Chegas ao quarto e és brindada com um bebé com chucha, não a chucha não ficou lá a noite toda, ele é que já sabe procurar e pôr na boca. Se lhe estenderes as mãos ele já te estende os braços, mas apenas contigo, para os outros colos não mostra essa vontade. Continua a palrar mas agora fartou-se das sílabas, prefere emitir grunhidos animalescos enquanto faz movimentos "duvidosos" com as ancas.
Começa finalmente a compensar tudo o que passaste nos primeiros meses. O tempo não passa enquanto estás no trabalho e morres de saudades da criatura. Já se senta, já dá passinhos agarrado, já brinca, já mostra sentimentos, já não é um pequeno monozinho. Só ainda não pensas no próximo porque apesar de compensar não esqueces os primeiros 4 meses em que o diabrete berrava noite e dia. E se te calha um igual na próxima?
Epah a sério digam-me lá quantos são na dentição de leite e quando é que isto acalma? Já se percebeu que o rapaz é um chorão, mas está a "sofrer" tanto com os dentes que dá dó e dá sono. Hoje lá foi mais uma noite de tortura, acordadinha desde as 04h. Eu digo que são dentes mas às tantas já dou por mim a pensar em doenças terminais. Ele esfrega o nariz, tem bochechas vermelhas, baba-se ao ponto de ter de lhe trocar o babygrow, tenta atacar-me literalmente. Agarra-se às minhas orelhas abre a boca e puxa a minha cara de encontro à dele numa tentativa de me abocanhar. Da primeira vez que me fez isto estava eu muito fofinha a osculá-lo, assustei-me gente. Achei por instantes que ele estava possuído.
Já experimentei tudo e nada acalma estas fúrias. Já sabem, paciência, muita, e 4 já cá cantam, faltam 16. Se continuar a este ritmo de 3 semanas de sofrimento até o dente romper, restam-me apenas 48 semanas. No entretanto venham os Bucagel, o Primeiro Balsámo, os mordedores gelados, as dedeiras, as nossas bochechas, as cenouras frias e tudo o que ele apanhar à frente para roer.
02h - buááááááá, coloca chucha, não chega, pega, embala, pousa, desperta, pega de novo, embala, pousa - 02h25
04h - buááááááá, coloca chucha, não chega, pega, embala, pousa, desperta, pega de novo, embala, pousa, desperta, pega pela terceira vez, aguarda 15 minutos, diz que é o tempo para entrar no sono profundo, pouca - 05h
06h40 - buáááááááá, coloca chucha, não chega, pega, diz palavrões, pousa, desperta, pega de novo, embala, diz palavrões a cantarolar, senta no sofá e fica com ele nos braços até acordar de novo - 08h40 (hora do despartador tocar).
O meu marido está fora (para não variar e já sei que quando ler isto vai dizer - são apenas 8 dias por mês), e como estamos sem empregada (ainda) o bébas foi para casa dos meus pais no domingo. Na segunda-feira fui lá dormir porque estava a morrer de saudades e ontem também ia caso não me tivessem retido no escritório até às 20h. Com um trânsito infernal para a Ponte (a Salazar) lá desisti da ideia de ir até Azeitão e fui para casa, meio desgostosa. Sem jantar, sem marido, sem filho, aqueci uma sopa, vi um episódio de Masterchef e deitei-me eram 21h40. Minhas senhoras, dormi, sem qualquer interrupção até às 08h coisa que não acontecia desde o quinto mês de gravidez. Que bem que me soube esta folga de filho, de marido de tudo. Vai ser para repetir.
Esta noticia do Sol está muito bem apanhada - o que as mães fazem e não contam a ninguém:
Tomam menos banho desde que são mães - não tomo menos mas sim mais rápidos, já a cabeça anda mais vezes oleosa.
Preferem uma noite de sono a sexo - sexo? o que é isso? quem pensa em sexo quando pode dormir mais uns minutinhos? Uma noite de sexo? Grande LOL
Saltam banhos do bebé - sim é verdade, toma banho dia sim dia não, e confesso que não raras as vezes me apetece saltar mais um mas não o faço. Aquela história de que os bebés não cheiram mal é meia mito. Exprimentem pôr o vosso nariz no rabinho deles.
Sentem-se aliviadas quando saem para trabalhar - e sentem-se aliviadas quando ele adormece às 21h, sentem-se aliviadas quando ele dorme a sesta, mas também morrem de saudades quando estão longe.
Fazem desaparecer brinquedos irritantes - a questão é outra, porque é que eles só gostam dos brinquedos irritantes? Ofereceram-lhe um tambor da Chico que é de tirar a paciência a uma Papa. Dei-lhe sumiço.
Por vezes acham que não foram feitas para ser mães - ou isso ou dizer ao marido "se eu soubesse o que sei hoje nunca teria engravidado". Repito muitas vezes esta frase e depois tenho vontade de morrer tal é o peso na minha consciência.
A esperança é a última a morrer e eu vou tentar uma vez mais. O perfil desta senhora é totalmente diferente das outras, vem de uma agência de uma amiga de amiga e juro a mim mesma que será a última vez que tento. O colégio está escolhido caso falhe tudo de novo. As expectativas são muitooooo baixas porque deixei de acreditar que exista realmente alguém com vontade de trabalhar e com gosto em tomar conta de criaturas fofinhas fofinhas que só apetecem encher de beijinhos. Custa-me muito ver este mundo podre.
Na altura, por opção própria resolvi não aprofundar muito mais o tema sobre optar por deixar o bebé em casa. Muitas vezes as pessoas não compreendem este tipo de soluções e acham que é um luxo. Um luxo é ter um trabalho das 09h às 17h com uma hora de almoço no meio. Esse luxo eu não tenho, não tenho um horário, tenho de estar contactável nas minhas férias, trago computador para casa todas as sextas-feiras, tenho reuniões no Algarve em pleno Agosto. Não tenho horário reduzido por ter sido mãe, não tive uma verdadeira licença. Abusam de mim é verdade, mas pagam-me por isso, e esse luxo eu tenho. Pagam-me e dão-me para a mão assuntos para tratar que também ninguém na minha idade trata.
A opção de arranjar alguém em quem confiar que tratasse do meu Pablito era o melhor de dois mundos: dava-me folga para ter alguma margem no trabalho, tinha alguém a ajudar-me nas tarefas domésticas o que me permitia ganhar tempo com o meu rebento e evitava que ele apanhasse todos os bichos e mais alguns antes dos 12 meses.
Aquilo que era o desejável desde sempre tornou-se no meu maior pesadelo, não acertei, tive más experiências e conheci o pior das pessoas. Cheguei à conclusão que estamos entregues aos bichos, que as pessoas não querem trabalhar e que há gente que não vale um cocó do animal mais insignificante da terra. Agora a vida trocou-me as voltas e penso em avançar para a solução colégio. A tempo inteiro, também não tenho tempo para meios termos, e por muito bem que receba não estou rodeada por um sequito de empregados. Na verdade não estou rodeada por nenhum.
O último que lá esteve por casa despediu-se no próprio dia em que começou "ah e tal afinal não quero, é muito cansativo demoro 30 minutos a chegar a casa". Epah a sério?
Os nossos filhos são uns prodígios, podem não se sentar, rebolar apenas para um lado mas antes de fazerem sete meses já dizem mamã. Vá, não é bem mamã porque repete a sílaba 3 vezes mamamã, 30 vezes seguidas e vai sempre aumentado o tom. Mas é tão tão engraçado ouvi-lo dizer mamamã quando está zangado (sim normalmente só diz quando está zangado) e repetir quase até ficar rouco.