E eis que o quinto mês chega num ápice. E com ele as sopas, as papas e a fruta. Finalmente deixas de estar em pânico porque ele só bebeu 205 ml de leite quando devia beber 210 ml (a verdade é que o Pablito na maioria das vezes ficava-se bem com 80 ml). A primeira sopa corre mal, ele grita zangado contigo como se lhe tivesses a dar cocó cozido. Cerra a boca, faz caretas e tem vómitos. A segunda sopa corre igualmente mal, a terceira corre um bocadinho melhor e ao fim de uma semana ele já adora a sopa.
Penses que lhe vais dar puré de fruta cozida esmigalhado com garfo mas estes pequenos seres são exigentes, tem de ser tudo passado na varinha. Pensas, "oh meu deus, nunca se vai habituar a novas texturas", queres lá saber. Adora a pêra XPTO que a senhora da mercearia recomendou, portanto à vigésima quinta pêra comprada consegues acertar no tipo (Conice - juro nunca tinha ouvido falar) e ficas com um pequeno devorador de pêras.
Passado uma semana podes introduzir a papa e aí a conversa já é outra, chora, mas é porque demoras demasiado tempo entre levar a colher ao prato e enfiar a colher na boca dele. Tens também um pequeno devorador de papas. Tudo se começa a compor e podes finalmente tirar aquele biberão que não dá jeito nenhum à uma da manhã. Mas como por magia ele passa a adorar leite outra vez e acorda quem nem relógio de igreja para esse biberão.
Já chora muito menos, já se entretém dois minutos a ver o baby tv, dois minutos no parque, dois minutos na cama, dois minutos no chão, dois minutos na cadeira de comer, e portanto consegues ganhar 10 minutos por dia. Nas outras alturas também não precisa de estar ao colo, mas precisa de te estar a ver, mas não podes estar de costas, tens de te virar para ele e falar-lhe directamente, se falares a cantar ainda fica mais feliz. Experimenta ler-lhe uma receita na cozinha enquanto preparas o jantar. Palra já com sílabas e a preferida é o bá, fica 20 minutos seguidos a gritar bááááááá báaáaáááááa como se tivesse a fazer um grande discurso.
Já aprendeu o conceito de desprezo e quando não está para aí virado ignora-te. Amua inclusive porque tiveste o desplante de voltar a trabalhar. E com uma descrição assim, digam lá se estas criaturas não são adoráveis.
Há dois anos comprámos um T4 em pleno Jardim da Parada, em óptimo estado, todo renovado e com excelentes áreas. Dizíamos que seria uma casa para a vida, para ter filhos, para vê-los a crescer, e para envelhecermos juntos naquele canto. Volvidos dois anos andamos a pensar vender a casa, não só porque seria um bom negócio, mas também porque este bairro, que é do Mercado, do Jardim, da BabyCool, da Padaria, da Arcádia, da Tasca na Esquina, de toda a gente que queira lá ir, é um pequeno caos para quem lá mora. E esse estado de sítio constante que faz com que eu não possa sair de carro ao sábado, nem chegar do trabalho depois das 20h que me faz pensar e me faz querer sair dali.
Os 200 m2 de casa, os 4 quartos, o pé direito alto, as paredes e portadas brancas, parecem não ser o decisivo incentivo para me manter. Desse lado se alguém estiver interessado, é só dizer.
Criaturas amorosas estas que geramos. Quando achamos que o pior já passou, que os dentes de baixo dão alguma dor de cabeça a nascer, que as cólicas se foram, surgem noites a fio sem pregar olho. Choraminga, esfrega a cara na minha roupa, baba-se em fio, tenta morder as minhas bochechas, não me deixa pôr gel nas gengivas sem me dar umas boas trincas... pobre coitado. Parece que vêm aí mais dentes, e estes, não estão a dar tréguas, não estão mesmo. Nós por cá, sobrevivemos com palitos nos olhos e paracetamol para as dores de costas que se apoderaram depois de uma noite de tanto colo e embalos.
... deixamos de existir, eu deixei de ser eu para passar a ser mãe do Pablo, mas em todo o lado (excepto no escritório), com toda a gente, pais e marido inclusive. Não sei como se dá a volta a isto mas há situações em que fico verdadeiramente afectada.
Sou filha única, sempre tive as atenções viradas para ti e de repente passa para último plano, a minha mãe liga-me e diz-me "olá filha, como está o bebe? já fez coco? já isto já aquilo?" E eu? Um e tu estás bem? De vez em quando ficava bem. Ou quando chegam a minha casa e cumprimentam primeiro o bebe, e a mim caso me vejam. Apesar de ser um pouco maior que ele na maioria das vezes sinto-me invisível.
Com o marido a história é outra, sinto-me menos mulher, é normal, continuo sem tempo para me arranjar decentemente, as unhas andam sempre numa desgraça, a celulite teima em não sair porque não cumpro nenhum tratamento até ao fim, deixei de treinar, cancelei o ginásio, despedi a empregada, tudo junto ando um caco. O marido vai ficando para último plano, e quando vem para primeiro é só para desconversar um bocado ou discutir um pouco. Se calhar é assim que começa, ou então é uma fase, que dura há precisamente seis meses e meio.
Dou por mim a pensar que sou uma sombra daquilo que já fui, mas é um misto de sentimentos porque não me sinto afectada, ele compensa.
Come sopa com carne, come papa com glúten, come pão, come maças, pêras e papaias, lambuza-se com mangas. Voltou a gostar do leite só para chatear no momento em que eu ia retirar o leite da ceia que sua excelência bebe às 00h30. Faz cocó como um homenzinho, fala muito muito muito. Ri-se às gargalhadas com o cucu e detesta cócegas nos pés. Anda rabugento por causa dos dentes de cima que teimam em não sair mas continuam a chatear e está cada vez maior e eu sou A mãe babada.
Nunca pensei que seria possível ter saudades de alguém com quem estamos todos os dias. Isto dos filhos é giro, muda-nos completamente. Ficamos mais maduras mas também mais amorosas. Eu que nada beijoqueira sou, encho a minha cria de beijos sempre que chego ao pé dela. Atrás do pescoço, nas orelhas, nas bochechas, e cada vez que repito tudo, ela enche-me o coração com o seu sorriso desdentado.
Ao fim de 6 meses em casa foi dia de regressar ao trabalho. Ontem estava em estado calamitoso. Só pensava: não quero voltar ao trabalho, não quero trabalhar, quero ficar com o meu gordo para sempre em casa, por favor deixem-me ficar. Infelizmente ou felizmente, em casa, quem paga a maioria das contas sou eu, e por isso o regresso era inevitável. Está a custar claro que sim, mas é mais pelo cansaço que tenho em cima. Confesso que à hora do almoço fui a casa e fiquei triste quando entrei e ouvi o shhhhh no quarto dele, tinha acabado de adormecer, não o ia ver. Mas a excelência acordou para fazer um grande cocó (é limpinho, não consegue fazer a dormir) e eu lá o agarrei e enchi-o de beijos. Só isso fez o meu dia.
Agora apesar de estar afogada em trabalho, já estou a contar os minutos (faltam muitos ainda) para desligar isto e ir ter com o meu gordinho.
Num abrir e fechar olhos aquela criatura pequena que trouxemos para casa já tem 3 meses. Olhamos para ela e continuamos sem saber como é que uma coisa daquelas saiu de dentro de nós. Já compreendemos o choro de alguma forma, quando tem sono e quando tem fome. Continua a dar muito trabalho, e afinal as cólicas não passam aos 3 meses em ponto tipo encontro das 16h entre dois britânicos. São um pouco menos intensas mas o fim do dia é um inferno. Estás desejosa que cheguem as horas de ele ir dormir, mas infelizmente ainda não é certo. Resolves começar a treinar o bebe a dormir, "como dormir sozinho em 325 passos" e até corre bem. Em vez de adormecer ao teu colo embalado em 5 minutos, adormece sozinho na cama em 55 minutos. Está muito mais comunicativo e aos quatro meses começa a palrar, palra como se não houvesse amanhã. Ficas toda babada e pensas, aos seis meses vai estar a dizer mamã e papá. Aos 4 meses já faz coco sozinho todos os dias, as cólicas abrandaram finalmente porque ele tornou-se uma máquina a dar puns. Quando achas que o mau humor do teu filho começa a abrandar surgem aquelas bochechas vermelhas, começa a esfregar o nariz na tua roupa e a babar como os meus boxers. Vêm aí o segundo bicho papão: os dentes. Problema, entre o mau humor dos dentes a rasgar a gengiva, e a gengiva efectivamente rasgada pode demorar um mês.
Não interessa, é o teu filho e esperas, tens paciência, enches de beijos, de mimos e de nomes carinhosos. Sabe quem és desde sempre mas agora já olha para ti com orgulho. Adora-te. Enjoou o leite, mas isso é só mais um contratempo, não faz mal, estás quase a inserir as sopas ou as papas e aí tudo será muito melhor.